O blog do Leandro Alves

As pessoas são todas umas bisbilhoteiras.  Falam dos vizinhos, falam dos amigos pelas costas, espiam a vida dos outros.  O jornaleiro, o dono da padaria, o cobrador do ônibus, o marido da vizinha, o professor do colégio — ninguém escapa deste prazer humano de falar da vida dos outros.  Pode ser falar bem, mas também falar mal. Algumas pessoas são como eu, transformam tudo em crônicas.

Leandro Alves

O fogão e a felicidade

 

 

O fogão e a felicidade

Leandro Alves

Num ônibus, numa tarde de uma segunda-feira, lá pelas três horas da tarde, um cavalheiro puxa assunto comigo quando eu estava sozinho num banco, passando pelo centro de Belo Horizonte.

— Tô tão feliz hoje.

— Que bom, rapaz.

— O que que foi?

— Comprei um fogão lá para casa.

— É por isto que você está tão feliz, moço?

— Sim, mas não posso contar para todo mundo não. Não é? Se eu contar, alguém pode rir de mim. Feliz só por isto?

— Contei só para você, bom?

— Que coisa boa. Tá bom!

Naquela tarde eu descobri que na casa de muita gente não tinha fogão. Quando aquele cavalheiro disse para mim comprou um, imaginei que finalmente ele poderia fazer café de manhã, esquentar a marmita antes de ir para o trabalho, preparar ali as refeições dele. Coisas que a gente faz todo dia, mas sem dar muita importância para isso.

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Foto: Gustavo Noronha

Leandro Alves
Muito prazer!

Mineiro, de Belo Horizonte, cronista, formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, a PUC Minas.  Comecei a escrever crônicas postadas nas minhas redes sociais, muita gente gostou e eu continuei. Atualmente, cronista do jornal Porta Voz de Venda Nova. O jornal é impresso, mas esporadicamente também é distribuído online.

Participei do livro “Escrevendo com as emoções”, editora Leonella, sob a curadoria da escritora Márcia Denser.  De 2015 até maio de 2023, participei do Estúdio de Criação Literária, nos formatos presencial e online.

Depois de ler “O padeiro”, crônica de Rubem Braga, e “Flerte”, de Carlinhos de Oliveira, decidi que o que mais desejo fazer nada vida é ser cronista.

Acredito que todos nós, sem exceção, todo dia que saímos de casa, queiramos nós ou não, participamos de um grande filme mudo chamado vida e que tem sempre alguém bisbilhotando tudo o que a gente faz e falando da gente pelas costas. Neste caso, alguns são como eu e escrevem crônicas.  Muito prazer!

Curadoria Márcia Denser