O blog do Leandro Alves

As pessoas são todas umas bisbilhoteiras.  Falam dos vizinhos, falam dos amigos pelas costas, espiam a vida dos outros.  O jornaleiro, o dono da padaria, o cobrador do ônibus, o marido da vizinha, o professor do colégio — ninguém escapa deste prazer humano de falar da vida dos outros.  Pode ser falar bem, mas também falar mal. Algumas pessoas são como eu, transformam tudo em crônicas.

Leandro Alves

Você vive da alma para dentro ou da alma para fora?

 

 

 

Você vive da alma para dentro ou da alma para fora?

Leandro Alves

Outro dia, quando visitava a casa de um amigo, cheguei a conclusão de há gente no mundo que vive da alma para fora e gente que vive da alma para dentro. Gente que vive da alma para dentro vive ensimesmada, presa nos próprios pensamentos, pensando nas contas para pagar, pensando em quanto tempo falta para se aposentar, onde gostaria de morrer. Para gente assim basta um quarto cheio de livros, uma televisão que funcione minimamente funcione, uns três ou quatro filmes para ver no final de semana.

Por exemplo, outro dia eu perguntava para um amigo meu o que ele fez de férias do : uma pilha de livros e uma maratona de filmes de arte. “Deus me livre dessa andação que todo mundo fica hoje em dia”, ele me disse, falando mesmo que gostava de ficar em casa.

Interessante é quando vem o verão, quando ficar trancado no quarto é impossível, quando a casa onde a gente mora vira um lugar inabitável — aí o jeito é reunir os amigos e sair para um chope no lugar mais próximo. Na verdade, o calor faz muito mal para quem vive da alma para dentro. Gente assim vive melhor em fazendas, sitios, roça.

E os que vivem da alma para fora?

Foliões de carnaval, músicos que tocam na noite, gente que ama a dança de salão, os lixeiros da rua que trabalham cantando, o motorista de ônibus de assobia uma música caipira enquanto dirige. Estes, sim, vivem da alma para fora.

Ficar dentro de casa lendo um livro atrás do outro? Nem pensar. Perder horas e horas atrás de um livro na biblioteca? Nem morto. Meditação, Yoga, aqueles calhamaços de livros, rezar durante muitas horas na igreja. Pessoas assim costumam achar tudo isso uma chatice. Afinal, a vida é aqui e agora.

Os do primeiro grupo, não suportam os do segundo. A recíproca é verdadeira. Um amigo com a perna no mundo, pode achar o mais quieto insuportável; o mais quieto, costuma ver o outro apenas em situações esporádicas. “Que preguiça! Ele só pensa em ficar naquela andação pela cidade!”

Gente que não cumprimenta desconhecidos, não da conversa para o motorista de Uber, não gosta da noite, não gosta de samba. Geralmente vive trancada dentro da própria alma. Só sai para comprar pão, em casos raros.

Os outros mais com a perna no mundo, fogem do lugar porque o silêncio está insuportável; os outros, evitam bares para não terem de aturar aquele jeito de falar alto e gesticulando de muitos depois de uns chopes.

Você vive da alma para dentro ou da alma para fora?

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp

Respostas de 2

  1. Amigo,
    Muito boa crônica!!!!
    Acho que fico de um lado e do outro!!
    Da alma pra dentro e da alma pra fora!!
    Nem tanto ao mar, nem tanto a terra.
    Mas, meu sonho é voltar a morar a beira mar…

    1. Eu também, Genilson. Gosto de ficar em casa lendo livros e esvrevendo, mas gosto também de carnaval, aproveitar a praia, ir num bom show.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Foto: Gustavo Noronha

Leandro Alves
Muito prazer!

Mineiro, de Belo Horizonte, cronista, formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, a PUC Minas.  Comecei a escrever crônicas postadas nas minhas redes sociais, muita gente gostou e eu continuei. Atualmente, cronista do jornal Porta Voz de Venda Nova. O jornal é impresso, mas esporadicamente também é distribuído online.

Participei do livro “Escrevendo com as emoções”, editora Leonella, sob a curadoria da escritora Márcia Denser.  De 2015 até maio de 2023, participei do Estúdio de Criação Literária, nos formatos presencial e online.

Depois de ler “O padeiro”, crônica de Rubem Braga, e “Flerte”, de Carlinhos de Oliveira, decidi que o que mais desejo fazer nada vida é ser cronista.

Acredito que todos nós, sem exceção, todo dia que saímos de casa, queiramos nós ou não, participamos de um grande filme mudo chamado vida e que tem sempre alguém bisbilhotando tudo o que a gente faz e falando da gente pelas costas. Neste caso, alguns são como eu e escrevem crônicas.  Muito prazer!

Curadoria Márcia Denser