O blog do Leandro Alves

As pessoas são todas umas bisbilhoteiras.  Falam dos vizinhos, falam dos amigos pelas costas, espiam a vida dos outros.  O jornaleiro, o dono da padaria, o cobrador do ônibus, o marido da vizinha, o professor do colégio — ninguém escapa deste prazer humano de falar da vida dos outros.  Pode ser falar bem, mas também falar mal. Algumas pessoas são como eu, transformam tudo em crônicas.

Leandro Alves

Gosto/ Detesto

 

 

Gosto/ Detesto

“Inspirado na crônica de Miguel Sanches Neto”

Uma crônica do Miguel Sanches Neto ( escritor que nunca me decepciona seja no romance, no conto, no poema ou na crítica literária) foi um verdadeiro convite à escrita para mim. O título é “Gosto/ Detesto”, publicada no Facebook do escritor, inspirada numa série de entrevistas que José Condé fazia com escritores, exatamente sobre coisas que eles gostavam e detestavam. A coluna do José Condé se chamava “Arquivos impecáveis”, publicada do jornal A Manhã e, depois, na revista O Cruzeiro. Miguel, fez lista dele de coisas que adora e coisas que ele não gosta. Eu, aqui faço as minhas.

Gosto: ( 1) Tomar café com açúcar de manhã ao acordar; (2) ler um bom livro em lugar tranquilo; (3) conversar com gente desconhecida; (4) de carnaval; (5) de praia; (6) broa de fubá quentinho; (7) o charme das mulheres usando o uniforme de trabalho delas; (8) rir com meus amigos; (9) conversar com meus pais; (10) virar a noite.

Detesto: (1) gente que fala alto; (2) celulares tocando música em alto volume; (3) algumas pessoas que se intrometem na conversa dos outros; (4) cachorros; (5) a metideza de alguns intelectuais; ( 6) ler por obrigação; (7) intimidade forçada com quem quer que seja; ( 8) um encontro amoroso num lugar cheio de conhecidos, amigos que chegam para puxar assunto na pior hora; (9) zoação; (10) polêmicas a troco de nada numa conversa.

As coisas que nós gostamos e que detestamos nos moldam, marcam nosso lugar no mundo, nos conectam com umas pessoas, nos afastam de outras. Talvez, apenas em alguns casos, podemos tolerar e conviver com as diferenças dos outros.

Ir ao carnaval e, ao mesmo tempo, gostar de um lugar quieto para ler um livro, me faz perceber que ler é muito bom; mas que a vida é muito curta para que eu fique trancado dentro do quarto. Em outras palavras, viver só na imaginação não é viver.

Gente eu gosto, mas o tempo todo sufoca. O amor e a amizade muitas vezes são alimentados da falta, da saudade, de modo que a gente precisa de tempo para acumular novidades e depois contar para os outros.

Eu vivo de uma forma hoje, amanhã posso experimentar outras, viver de um jeito mais quiteto nuns tempos, mais agitado nos outros. Ninguém tem que ser uma constante, tudo muda no mundo e nós também mudamos.

Foto: uma cena do filme “O carteiro e o poeta”, baseado no livro de mesmo nome, do escritor Antonio Skármeta.

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Respostas de 2

  1. Gostei da sua crônica amigo!
    Nos faz te conhecermos um pouco mais!
    O artista como VC tem uma visão de mundo diferente da maioria.
    Mas, muitas coisas se igualam.
    Deus te abençoe sempre!!!!

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Foto: Gustavo Noronha

Leandro Alves
Muito prazer!

Mineiro, de Belo Horizonte, cronista, formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, a PUC Minas.  Comecei a escrever crônicas postadas nas minhas redes sociais, muita gente gostou e eu continuei. Atualmente, cronista do jornal Porta Voz de Venda Nova. O jornal é impresso, mas esporadicamente também é distribuído online.

Participei do livro “Escrevendo com as emoções”, editora Leonella, sob a curadoria da escritora Márcia Denser.  De 2015 até maio de 2023, participei do Estúdio de Criação Literária, nos formatos presencial e online.

Depois de ler “O padeiro”, crônica de Rubem Braga, e “Flerte”, de Carlinhos de Oliveira, decidi que o que mais desejo fazer nada vida é ser cronista.

Acredito que todos nós, sem exceção, todo dia que saímos de casa, queiramos nós ou não, participamos de um grande filme mudo chamado vida e que tem sempre alguém bisbilhotando tudo o que a gente faz e falando da gente pelas costas. Neste caso, alguns são como eu e escrevem crônicas.  Muito prazer!

Curadoria Márcia Denser