O blog do Leandro Alves

As pessoas são todas umas bisbilhoteiras.  Falam dos vizinhos, falam dos amigos pelas costas, espiam a vida dos outros.  O jornaleiro, o dono da padaria, o cobrador do ônibus, o marido da vizinha, o professor do colégio — ninguém escapa deste prazer humano de falar da vida dos outros.  Pode ser falar bem, mas também falar mal. Algumas pessoas são como eu, transformam tudo em crônicas.

Leandro Alves

Dias nublados, dias de sol

 

 

 

Dias nublados, dias de sol

Leandro Alves

Desde criança, tenho umas simpatias estranhas. Uma delas, sem dúvida, é minha paixão por tardes de dias nublados. Gosto quando, entre uma conversa e outra, devidamente agasalhados, homens e mulheres soltam aqueles vapores brancos da respiração, quando falam. Gosto em dias assim de olhar pela janela do ônibus, dos carros, da cafeteria, do consultório médico e gosto, sobretudo, de conversar. Pessoalmente, adoro quando ando por um asfalto molhado depois da chuva. Se pudesse fazer uma associação livres sobre dias assim, eu diria as amizades seriam como os dias nublados — tardes assim são ótimas para a gente fazer um amigo novo. É minha intuição, raramente deixo de escutá-la.

Outra simpatia que tenho, bem esquisita por sinal, é por lojas que vendem tecidos para costureiras. Lojas assim são um contraponto ao mundo dos celulares, tabletes, consultas agendadas pela internet, cardápio em QR Conde. Você chega para tomar um cafezinho e o garçom diz: “Que tipo de café o senhor prefere?”, “Quais opções você tem?”, “O cardápio está no QR code, senhor.”

O mundo moderno parece criar todos tipos de opções para que as pessoas não olhem umas para as outras, não conversem, não riam juntas. Os armarinhos me trazem à cabeça coisas que quero que permaneçam estáticas, por isto eu o associo ao amor.

Finalmente, os dias de sol. Quem vive perto da praia costuma gostar mais deles, mas não são de todo ruins. Em dias assim, meu horário preferido é o da manhã. Levantar, esquentar o corpo com um cafezinho quente, comer uma broinha de fubá e depois sair para o trabalho. Também é ótimo acordar cedo em dias assim. Sentir que o mundo recomeça não apenas para os outros, mas para a gente também.

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Respostas de 2

  1. Que crônica mais legal!!!
    O título parece até nome de filme!
    Gostei das suas reflexões amigo!!
    Acho que gosto mais dos dias de sol!!! Já morei na praia!! E era bom demais acordar e ir caminhando pelo orla indo p o trabalho ou no fim das tardes, ouvir músicas no Disc Man. Vendo as ondas indo e vindo!!!

    1. Eu ia para uma consulta com minha psicóloga quando eu era muito menino e, dentro do ônibus, eu olhava as pessoas da janela numa tarde nublada. Num determinado momento, tocou no rádio do motorista “Lágrimas de uma mulher”, do Guilherme Arantes, disco “Castelos”. Aquela música mexeu tanto comigo. Aí me apaixonei por tardes assim. Porém, quando estou na praia curto mais dias de sol como você.

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Foto: Gustavo Noronha

Leandro Alves
Muito prazer!

Mineiro, de Belo Horizonte, cronista, formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, a PUC Minas.  Comecei a escrever crônicas postadas nas minhas redes sociais, muita gente gostou e eu continuei. Atualmente, cronista do jornal Porta Voz de Venda Nova. O jornal é impresso, mas esporadicamente também é distribuído online.

Participei do livro “Escrevendo com as emoções”, editora Leonella, sob a curadoria da escritora Márcia Denser.  De 2015 até maio de 2023, participei do Estúdio de Criação Literária, nos formatos presencial e online.

Depois de ler “O padeiro”, crônica de Rubem Braga, e “Flerte”, de Carlinhos de Oliveira, decidi que o que mais desejo fazer nada vida é ser cronista.

Acredito que todos nós, sem exceção, todo dia que saímos de casa, queiramos nós ou não, participamos de um grande filme mudo chamado vida e que tem sempre alguém bisbilhotando tudo o que a gente faz e falando da gente pelas costas. Neste caso, alguns são como eu e escrevem crônicas.  Muito prazer!

Curadoria Márcia Denser