O blog do Leandro Alves

As pessoas são todas umas bisbilhoteiras.  Falam dos vizinhos, falam dos amigos pelas costas, espiam a vida dos outros.  O jornaleiro, o dono da padaria, o cobrador do ônibus, o marido da vizinha, o professor do colégio — ninguém escapa deste prazer humano de falar da vida dos outros.  Pode ser falar bem, mas também falar mal. Algumas pessoas são como eu, transformam tudo em crônicas.

Leandro Alves

Como se chega ao amor

 

 

 

Como se chega ao amor
[ Minicrônica de Leandro Alves]

Reparo num cena cotidiana. Num domingo de família, todos reúndidos, mãe, pai, avós, filhos e netos quando os olhos da avó ficam rasos d’água.

— A vovó te ama.

A menininha interrompe a brincadeira de esconde esconde, limpa uma na outra as mãos cheias de terra, olha os adultos e responde sem pensar:

— Ah, tá.

A avó acrescenta:

— O titio também te ama.

— Tá bom, vó.

O irmão já se escondeu, ela quer encontrá-lo para sair vitoriosa da brincadeira, a adrenalina está a todo vapor. O irmão e a prima correram muito pela casa, estão todos suados, a menininha também está suada. Os adultos estão pálidos, com cara de choro, mãos tremendo, pernas bambas e tudo isso é um puro contraste com a alegria da infância.

Mais tarde, já com caneta e papel em mãos, fico pensando no porquê usamos frases como “eu amo você”, “Titio te ama”, “Vovó te ama”, “papai te ama” e “Mamãe te ama” ao invés do curto e direto “Eu te amo”. Talvez — apenas talvez — pelo fato de que “Eu te amo” tenha uma força que nem todo mundo suporta. Não apenas de dizer, ouvir também. Acho que é como se provocassse um certo tremor de terra, como se o tempo parasse, como se pudessemos parar um instante o relógio do mundo.

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Uma resposta

  1. Verdadeiramente, um eu te amo!!!! Mexe conosco!!!
    Da arrepios, é muito importante!!!
    Deus te abençoe sempre amigo!
    Boa crônica!

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Foto: Gustavo Noronha

Leandro Alves
Muito prazer!

Mineiro, de Belo Horizonte, cronista, formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, a PUC Minas.  Comecei a escrever crônicas postadas nas minhas redes sociais, muita gente gostou e eu continuei. Atualmente, cronista do jornal Porta Voz de Venda Nova. O jornal é impresso, mas esporadicamente também é distribuído online.

Participei do livro “Escrevendo com as emoções”, editora Leonella, sob a curadoria da escritora Márcia Denser.  De 2015 até maio de 2023, participei do Estúdio de Criação Literária, nos formatos presencial e online.

Depois de ler “O padeiro”, crônica de Rubem Braga, e “Flerte”, de Carlinhos de Oliveira, decidi que o que mais desejo fazer nada vida é ser cronista.

Acredito que todos nós, sem exceção, todo dia que saímos de casa, queiramos nós ou não, participamos de um grande filme mudo chamado vida e que tem sempre alguém bisbilhotando tudo o que a gente faz e falando da gente pelas costas. Neste caso, alguns são como eu e escrevem crônicas.  Muito prazer!

Curadoria Márcia Denser