Com o olhar em festa e o coração às gargalhadas
Leandro Alves
Tenho a mania de rir sozinho enquanto os outros falam e eu penso em outra coisa.
Já aconteceu inúmeras vezes: na rua sozinho, no ônibus, no almoço em família, lendo um livro na biblioteca, durante uma prova na faculdade, dançando forró com alguma moça, comendo coxinha na lanchonete, almoçando em algum restaurante. As razões são várias: pode ser que eu tenha me lembrado da cena de um livro, de uma piada, me imaginado em uma situação bizarra ou coisa parecida.
Não, nem sempre estou rindo do que alguém está fazendo em minha frente ou algo assim. É como se eu tivesse dentro de mim um comediante que não mostro para ninguém, um palhaço, um ator.
Será que fui um humorista na encarnação passada? Será?
“Do que você está rindo?”, “Como nada?”, “Agora você vai ter que contar?”
Meus amigos querem saber de tudo, querem rir comigo, reivindicam. Afinal, não é para isso que servem os amigos? Não é para rir junto e dividir as tristezas?
Corro o risco frequentemente de alguém desconhecido achar que estou rindo dele, caçoando dele, de me olhar com cara feia, exigir explicações.
Apenas quem me conhece de verdade diz “Ah, ele é assim mesmo”.
Quando dou uma gargalhada, geralmente faço isso derramando muitas lágrimas. Aquela gargalhada que me faz inclinar a cadeira para trás, aquela gargalhada sonora, barulhenta, que envolve todo mundo ao redor. Se fico segurando o choro durante um filme ou uma música, as lágrimas chegam quando estou rindo. Choro e rio, tudo ao mesmo tempo.
Portanto, que eu não fique olhando muito para alguém quando lembrar de alguma coisa engraçada.
Certa vez um professor na faculdade de Letras falou: “Você tem o olhar em festa e o coração às gargalhadas”. Eu pensei assim: “Puxa, como ele presta atenção em mim”.
Enquanto escrevo, vou me lembrando de uma crônica do Otto Lara Resente intitulada “Vista cansada”. O Otto observa que, na pressa do cotidiano, a gente passa pelas pessoas sem ver as pessoas. A gente não sabe se o porteiro do prédio do trabalho faleceu e foi substituído por outro, se o amigo da gente estava sem relógio ou com relógio no bar.
Pois este professor me observava nos mínimos gestos, não deixava escapar nenhum detalhe, nada.
Pois acontece que recentemente eu soube do falecimento dele. Um professor que deixou uma marca não apenas pelo conhecimento que transmitia, mas pelo seu lado humano.
Um abraçaço para você, Professor Doutor Marco Antônio de Oliveira. Minha solidariedade à família, aos amigos, aos outros professores da PUC Minas e todos que gostavam dele.