O blog do Leandro Alves

As pessoas são todas umas bisbilhoteiras.  Falam dos vizinhos, falam dos amigos pelas costas, espiam a vida dos outros.  O jornaleiro, o dono da padaria, o cobrador do ônibus, o marido da vizinha, o professor do colégio — ninguém escapa deste prazer humano de falar da vida dos outros.  Pode ser falar bem, mas também falar mal. Algumas pessoas são como eu, transformam tudo em crônicas.

Leandro Alves

Eu também quero ser devoto de Santa Risada

 

Eu também quero ser devoto de Santa Risada

Leandro Alves

Este título tirei de uma crônica do cantor e compositor Leo Jaime: foi publicada na Revista Marie Claire, intitulada “Quem disse que a Disney é lugar de criança?”, contando o passeio divertidíssimo do cantor com o filho, que dá um banho no pai no quesito de andar em brinquedos que envolvam lugares altos e adrenalina — meu sobrinho de treze anos também ganha de mim fácil neste quesito, já que eu jamais faria companhia para o garoto num passeio de tirolesa. Toca aqui, Leo Jaime.

De uns dias para cá, não entendi o porquê deste meu fascínio pelo cantor. As entrevistas, as ideias, as canções. Tudo. Cheguei ao ponto de andar pelas ruas, ao certificar de que ninguém estava olhando, cantarolar algumas de suas músicas. “Será que aquele cara ali está falando sozinho?”, poderia pensar alguém. Phodas. Eu estava feliz para c.

“Gatinha manhosa”, regravação da canção do Erasmo Carlos: “Meu bem, já não precisa falar comigo dengosa assim brigas só para depois ganhar mil carinhos de mim. ” Ok, quem fez a música foi o Tremendão; ainda sim, foi o próprio Tremendão que disse que o Leo é o Erasmo da época dele.

Eu cantava, deixava que as pessoas na rua ouvissem, que rissem de mim, que se emocionassem. Queria que chovesse para eu extravasar minha loucura cantando na chuva, mas não se pode ter tudo na vida, infelizmente.

Eu cantava e ia pensando: o Tim Maia disse ao Ed Motta que “O homem para ser cantor tem que ter fossa, ser corno, sofrer.” O Leo é o contrário disso: tem swing, humor, borogodó, sensualidade. Se tem fossa no Leo, é uma fossa engraçada.

Veja esta: ” Ela não gosta de mim, mas é porque eu sou pobre. Ela não gosta de mim, mas é porque eu sou pobre. Tô com uma mão na frente e outra atrás e já faz tempo que estou para te dizer, tô com uma mão na frente e outra atrás de você”. Precisa mesmo do cantor ser chorão para ser romântico? Sou louco por esse disco “Sessão da tarde”, de 1985.

Eu estava feliz porque ia ao teatro com um amigo numa noite super gostosa, meu amigo levaria uma amiga dele para que eu conhecesse, eu precisava me comunicar com eles e procurava uma farmácia para colocar créditos no celular. O sistema das operadoras estava fora do ar, mas eu ia de uma farmácia a outra cantando

O Leo é cantor, compositor, ator, escritor e tenta, sem muito sucesso, recusar a fama de galã.

“Sônia”, “O pobre”, ” A fórmula do amor”, “Conquistador barato”. Sei lá de qual eu gosto mais.

“Sessão da tarde”, “Phodas c”, “Avenida das desilusões”. Discos que não me canso de escutar.

Lembro de um sucesso do Leo num dueto dele com a Luiza Possi: “A não ser a vontade de te encontrar, o motivo eu já nem sei, nem que seja só para estar do seu lado, só pra ler, no seu rosto uma mensagem de amor.”

Como disse Leo Jaime é romântico, não é chorão, tem swing, humor. Durante a música a Luiza Possi grita: “Gostoso”, “Gostoso”. Não é só musicalmente que admiro o cantor, mas no fascínio que ele desperta na mulherada. De qualquer idade, inclusive.

O fato é que eu achei uma farmácia, entrei cantarolando sozinho, quase me passando por louco, fui até a funcionária e ela me disse que ali também não teria como recarregar o celular. “Fica para outro dia”, pensei. De repente, entra um cara cantarolando sem me ver e vai para o fundo da loja comprar as coisas dele: “Eu tentei naquela festa, você fugiu de mim. Eu pensei a vida não presta, ela não gosta de mim”. Coisa de doido, sô. Não é uma coincidência? Indiretamente o Leo Jaime me apresentava um amigo novo.

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Respostas de 2

  1. Tbm gosto muito do Léo Jaime!!!!
    Um excelente compositor!!!!!
    Com canções muito inspiradoras!!!!
    E que tbm parece um sujeito muito gente boa!!
    Obrigado por sua crônica amigo!!!!

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Foto: Gustavo Noronha

Leandro Alves
Muito prazer!

Mineiro, de Belo Horizonte, cronista, formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, a PUC Minas.  Comecei a escrever crônicas postadas nas minhas redes sociais, muita gente gostou e eu continuei. Atualmente, cronista do jornal Porta Voz de Venda Nova. O jornal é impresso, mas esporadicamente também é distribuído online.

Participei do livro “Escrevendo com as emoções”, editora Leonella, sob a curadoria da escritora Márcia Denser.  De 2015 até maio de 2023, participei do Estúdio de Criação Literária, nos formatos presencial e online.

Depois de ler “O padeiro”, crônica de Rubem Braga, e “Flerte”, de Carlinhos de Oliveira, decidi que o que mais desejo fazer nada vida é ser cronista.

Acredito que todos nós, sem exceção, todo dia que saímos de casa, queiramos nós ou não, participamos de um grande filme mudo chamado vida e que tem sempre alguém bisbilhotando tudo o que a gente faz e falando da gente pelas costas. Neste caso, alguns são como eu e escrevem crônicas.  Muito prazer!

Curadoria Márcia Denser