O blog do Leandro Alves

As pessoas são todas umas bisbilhoteiras.  Falam dos vizinhos, falam dos amigos pelas costas, espiam a vida dos outros.  O jornaleiro, o dono da padaria, o cobrador do ônibus, o marido da vizinha, o professor do colégio — ninguém escapa deste prazer humano de falar da vida dos outros.  Pode ser falar bem, mas também falar mal. Algumas pessoas são como eu, transformam tudo em crônicas.

Leandro Alves

O que te faz chorar?

 

 

O que te faz chorar?

Leandro Alves

para José Hilton Rosa

Você prende o choro? Você chora com facilidade por qualquer coisa? Você chora diante da beleza? Já chorou vendo um filme? chorou se despedindo de alguém no aeroporto ou escutando música? De tristeza? De alegria? Quando alguém morreu? Diante das mudanças da vida?

Mulheres choram com facilidade, deixam as emoções darem as caras, abraçam com vontade. Sem medo de serem vistas, julgadas, discriminadas, impedidas.

Do homem se exige virilidade, que brigue no trânsito, que não leve desaforo, que ganhe muito dinheiro e que não chore nunca. Em outras palavras, homem não chora.

Muitas coisas fazem com que alguém chore: alegria, beleza, morte, a perda de um emprego, a perda de um namoro. Uma certeza: somos humanos. A vida às vezes bate forte.

Homens, mulheres, crianças, velhos. Motivo para chorar não falta para ninguém — em qualquer fase da vida.

Há gente que, em meio de uma gargalhada, aquela de doer a barriga, simplesmente derrama lágrimas ao mesmo tempo.

Nossos olhos nos desobedecem, choramos sim, nos expressamos sem receio. Há alguma outra coisa a ser feita?

Homens geralmente correm para o banheiro, para um lugar reservado, engolem as lágrimas uma vez que, eles sabem, no que não estão errados, que se forem vistos chorando vão ser motivo de piada.

Cada um chora a seu modo, cada um do seu jeito, escondido, publicamente, na frente de todo mundo ou no anonimato.

O que fazer quando alguém chora perto de você? Talvez oferecer um copo de água, perguntar o que está acontecendo, oferecer-se pelo menos para ouvir.

De fato, é impossível para grande parte das pessoas ver alguém chorando e não fazer nada. O choro dos outros despertam o humano em nós — nas mulheres, sobretudo — sendo uma cena incômoda.

Chorar na frente de quem quer seja faz com que você olhe para dentro, misturando -se ao mistério do mundo, ao que a vida tem de incompreensível e ao mesmo tempo bela.

Crédito da imagem: pintor espanhol Juan Miró.

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Uma resposta

  1. Muito obrigado amigo!!!!
    Excelente sua crônica!
    Quando vejo uma pregação profunda ou um filme emocionante sempre choro.
    Deus abençoe sua escrita!

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Foto: Gustavo Noronha

Leandro Alves
Muito prazer!

Mineiro, de Belo Horizonte, cronista, formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, a PUC Minas.  Comecei a escrever crônicas postadas nas minhas redes sociais, muita gente gostou e eu continuei. Atualmente, cronista do jornal Porta Voz de Venda Nova. O jornal é impresso, mas esporadicamente também é distribuído online.

Participei do livro “Escrevendo com as emoções”, editora Leonella, sob a curadoria da escritora Márcia Denser.  De 2015 até maio de 2023, participei do Estúdio de Criação Literária, nos formatos presencial e online.

Depois de ler “O padeiro”, crônica de Rubem Braga, e “Flerte”, de Carlinhos de Oliveira, decidi que o que mais desejo fazer nada vida é ser cronista.

Acredito que todos nós, sem exceção, todo dia que saímos de casa, queiramos nós ou não, participamos de um grande filme mudo chamado vida e que tem sempre alguém bisbilhotando tudo o que a gente faz e falando da gente pelas costas. Neste caso, alguns são como eu e escrevem crônicas.  Muito prazer!

Curadoria Márcia Denser