O blog do Leandro Alves

As pessoas são todas umas bisbilhoteiras.  Falam dos vizinhos, falam dos amigos pelas costas, espiam a vida dos outros.  O jornaleiro, o dono da padaria, o cobrador do ônibus, o marido da vizinha, o professor do colégio — ninguém escapa deste prazer humano de falar da vida dos outros.  Pode ser falar bem, mas também falar mal. Algumas pessoas são como eu, transformam tudo em crônicas.

Leandro Alves

Obrigado, José Araújo

 

 

Obrigado, José Araújo

 

Uma escrita profundamente simples, isto sim, é a que tem o José Araújo da Silva. Seu livro “Histórias da minha vida: 14 aventuras vividas por um cearense” é simples, mas, ao mesmo tempo, de uma sofisticação dificílima de se conseguir, invejada por muitos, por muita gente que quer escrever tão bem assim e simplesmente não consegue.

Clarice Lispector tem uma frase que diz assim: “Que ninguém se engane, só se alcança a simplicidade depois de muito trabalho.”  E não é que ela está certa?  O escritor Luiz Vilela, por exemplo, disse em várias entrevistas que edita os diálogos dos seus contos até ele conseguir a simplicidade de que as pessoas falam no cotidiano, a coloquialidade do porteiro de um prédio tomando café na esquina, o jeito que as pessoas conversam nas ruas.

Quando fui convidado pelo poeta Rogério Salgado para o lançamento deste livro, fiquei feliz da vida que o livro não fosse de poesia. Claro que eu adoro poesia, sou doido por poemas; só que achar um livro de um poeta bom é tão raro hoje em dia, quase impossível. E, no meu caso, a maioria dos lançamentos para os quais sou convidado é assim.

O que descobri na leitura, na verdade, é que o José Araújo da Silva escreve tão bem, mas tão bem, que chega a dar raiva do talento dele, da capacidade de contar histórias de um jeito tão saboroso, tão direto ao ponto, sem enfeitar as palavras, sem querer falar difícil.

É praticamente um livro de “sustos”. O cronista está ali — saindo do trabalho, de uma gruta, andando na rua — quando de repente, sem que ele perceba, acaba escapando de uma onça, a queda de um poste, de um raio. A história do bilhete da loteria é a mais gostosa de ler, mas mais não conto para não estragar a surpresa.

E o que a gente mais faz na leitura é viajar: por Pirapora, pela Bahia, pela Travessia do Rio São Francisco. Se no Centro Cultural Padre Eustáquio, durante o lançamento do livro, eu fiquei fascinado pela contação de histórias que o autor fez ao vivo, imagine o sabor de ler as histórias sozinho, no meu quarto sossegado, com a imaginação livre para que eu fosse com o autor para onde quer que ele me convidasse.

Estou aqui batendo palmas para a ilustradora Elisa Martins que mandou muito bem na Ilustração. Parabéns, Elisa!

Descobrir um livro novo é das melhores coisas da vida, procurar um lugar legal para ler, deixar a imaginação solta, viajar por histórias e personagens de um outro tempo.  Foi que fiz com este livro. Obrigado, José Araújo da Silva!

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Respostas de 4

  1. Tô aqui já ansiosa pra receber o meu exemplar e ler cada conto com uma voracidade imaginativa.
    Parabéns José Araújo e “Histórias de minha vida” venha cheia de surpresas para nos encantar .

  2. Muito boa crônica, como sempre!
    Faz a gente querer ler o livro!!!!
    Deus te abençoe sempre, amigo!!!

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Foto: Gustavo Noronha

Leandro Alves
Muito prazer!

Mineiro, de Belo Horizonte, cronista, formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, a PUC Minas.  Comecei a escrever crônicas postadas nas minhas redes sociais, muita gente gostou e eu continuei. Atualmente, cronista do jornal Porta Voz de Venda Nova. O jornal é impresso, mas esporadicamente também é distribuído online.

Participei do livro “Escrevendo com as emoções”, editora Leonella, sob a curadoria da escritora Márcia Denser.  De 2015 até maio de 2023, participei do Estúdio de Criação Literária, nos formatos presencial e online.

Depois de ler “O padeiro”, crônica de Rubem Braga, e “Flerte”, de Carlinhos de Oliveira, decidi que o que mais desejo fazer nada vida é ser cronista.

Acredito que todos nós, sem exceção, todo dia que saímos de casa, queiramos nós ou não, participamos de um grande filme mudo chamado vida e que tem sempre alguém bisbilhotando tudo o que a gente faz e falando da gente pelas costas. Neste caso, alguns são como eu e escrevem crônicas.  Muito prazer!

Curadoria Márcia Denser