O blog do Leandro Alves

As pessoas são todas umas bisbilhoteiras.  Falam dos vizinhos, falam dos amigos pelas costas, espiam a vida dos outros.  O jornaleiro, o dono da padaria, o cobrador do ônibus, o marido da vizinha, o professor do colégio — ninguém escapa deste prazer humano de falar da vida dos outros.  Pode ser falar bem, mas também falar mal. Algumas pessoas são como eu, transformam tudo em crônicas.

Leandro Alves

Os internautas e a vida

 

 

Os internautas e a vida

Leandro Alves

Parece que, nós últimos tempos, sem nos darmos por isso, ficamos todos domesticados. Parece uma ordem vinda não sei onde para que as pessoas não saiam, não falem com estranhos, não vejam a vida, não vivam.

Certo dia, ao tomar um café depois de um cinema, fui até o caixa e notei que a cafeteria mudou muito — não havia garçons que fossem na mesa. Eu receberia um pager e aguardaria na mesa. Quando meu pedido ficasse pronto, o pager iria vibrar e eu mesmo iria pegar no balcão.

Existem aplicativos que você calcula sua rota para ir num determinado endereço, ele vai te localizando os pontos de referência, as ruas que você precisa virar, quantos metros de distância fica o determinado endereço. — não precisa incomodar ninguém para pedir uma simples informação.

E dança por um acaso ainda precisa de um par? Nem pensar! Tanta música eletrônica bacana, vídeos na internet com tutoriais ensinando passos, tudo sem pagar nada inclusive com o mundo gritando: não abrace, não converse, não faça amigos. Nem tanto ao mar e nem tanto à terra: ninguém aqui está demonizando a internet. Não é isso, mas um certo comportamento robotizado que tentam nos incutir de qualquer maneira.

Quem mais precisa de cinema? Tantos filmes de graça na internet, tantos serviços de streaming, tantas opções, sair de casa e comprar um ingresso é coisa do século passado.

Logo também vão sumir as bancas de revista, os livros, a moça no guichê dos estacionamentos de carro, tudo.

Fico pensando no dia em que você e eu nos seremos desnecessários também.

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Foto: Gustavo Noronha

Leandro Alves
Muito prazer!

Mineiro, de Belo Horizonte, cronista, formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, a PUC Minas.  Comecei a escrever crônicas postadas nas minhas redes sociais, muita gente gostou e eu continuei. Atualmente, cronista do jornal Porta Voz de Venda Nova. O jornal é impresso, mas esporadicamente também é distribuído online.

Participei do livro “Escrevendo com as emoções”, editora Leonella, sob a curadoria da escritora Márcia Denser.  De 2015 até maio de 2023, participei do Estúdio de Criação Literária, nos formatos presencial e online.

Depois de ler “O padeiro”, crônica de Rubem Braga, e “Flerte”, de Carlinhos de Oliveira, decidi que o que mais desejo fazer nada vida é ser cronista.

Acredito que todos nós, sem exceção, todo dia que saímos de casa, queiramos nós ou não, participamos de um grande filme mudo chamado vida e que tem sempre alguém bisbilhotando tudo o que a gente faz e falando da gente pelas costas. Neste caso, alguns são como eu e escrevem crônicas.  Muito prazer!

Curadoria Márcia Denser