Os internautas e a vida
Leandro Alves
Parece que, nós últimos tempos, sem nos darmos por isso, ficamos todos domesticados. Parece uma ordem vinda não sei onde para que as pessoas não saiam, não falem com estranhos, não vejam a vida, não vivam.
Certo dia, ao tomar um café depois de um cinema, fui até o caixa e notei que a cafeteria mudou muito — não havia garçons que fossem na mesa. Eu receberia um pager e aguardaria na mesa. Quando meu pedido ficasse pronto, o pager iria vibrar e eu mesmo iria pegar no balcão.
Existem aplicativos que você calcula sua rota para ir num determinado endereço, ele vai te localizando os pontos de referência, as ruas que você precisa virar, quantos metros de distância fica o determinado endereço. — não precisa incomodar ninguém para pedir uma simples informação.
E dança por um acaso ainda precisa de um par? Nem pensar! Tanta música eletrônica bacana, vídeos na internet com tutoriais ensinando passos, tudo sem pagar nada inclusive com o mundo gritando: não abrace, não converse, não faça amigos. Nem tanto ao mar e nem tanto à terra: ninguém aqui está demonizando a internet. Não é isso, mas um certo comportamento robotizado que tentam nos incutir de qualquer maneira.
Quem mais precisa de cinema? Tantos filmes de graça na internet, tantos serviços de streaming, tantas opções, sair de casa e comprar um ingresso é coisa do século passado.
Logo também vão sumir as bancas de revista, os livros, a moça no guichê dos estacionamentos de carro, tudo.
Fico pensando no dia em que você e eu nos seremos desnecessários também.