Quem viu a viúva?

Quem viu a viúva?

Leandro Alves

Tem gente que gosta de se apaixonar. Não precisa realizar a paixão ou nada, mas algumas pessoas parecem que enxergam a vida sem paixão como uma vida vazia, sem sentido. Foi o caso de uma amiga minha, de quando eu era arquivista, há muitos anos, que soube diante de uma banca de revistas que o homem de quem ela gostava tanto havia morrido. Claro, ela desabou ali mesmo no meio da rua e muita gente teve que acudir.

— O que vai ser da minha vida agora sem ele?

— Pelo amor de Deus, moça, o que aconteceu?

— É o pai da senhora?

— Que pai, menina, está louca?

— Marido?

— Amante?

— Rolo?

Afinal, todas as moças ali queriam saber quem era “ele”. Quem era aquele que “empacotou”. Aliás, adoro essa palavra “empacotou”, quem falava era a Dercy Gonçalves, naquela novela “Deus nos acuda”.

— Eu quero ir junto com ele?

— Moça, calma. Não vai fazer nehuma besteira, não é?

Marido? Amante? Rolo? Gambiarra? Amigo?

Aos poucos, ela foi se acalmando. Afinal, como todo mundo sabe, a tristeza uma hora casa. A gente enjoa, vai tocando a vida, deixa para ela.

Foi quando todo mundo descobriu que o tal “ele” era o cantor Michael Jackson que tinha acabado de morrer. Viúva não só ela, mas uma multidão de mulheres ao redor do planeta. Muçulmana, americana, espanhola, brasileiras. Michael Jackson era para ela um tigrão, incomparável, teve um orgasmo a primeira vez ouvindo as músicas dele.