Sinal fechado
Leandro Alves
Minha amiga Nic é briguenta, militante política, avó, poeta e cronista. Aposentada, com uma alegria invejável de viver, uma das gargalhadas mais incríveis que já ouvi na vida, sai sete dias por semana para lugares diferentes. Está sempre experimentando novas comidas, nova gente, lugares, ruas, cidades. Há algo sedutor naquele seu jeito espevitado: fala com desconhecidos com uma desenvoltura de dar inveja. Em filas, no táxi, na padaria, no ônibus. Certa noite, depois de um sarau de poemas, ali pelas bandas da Avenida Antônio Carlos, na UFMG, era tarde da noite e a gente saía esperando o ponto de ônibus mais próximo. Sinal fechado. Um casal num carro nos aborda.
— O que está acontecendo aí?
— Um sarau de poesia.
— O que?
— Mas esta hora da noite?
— É.
— Vocês moram em BH?
— Não, a gente é da Paraíba.
— Longe, não é?
— Um pouquinho.
— Você é poeta?
— Sim, ele também é.
— A gente precisa marcar qualquer dia.
— Claro, quando quiserem.
— Na Paraíba?
— Na Paraíba.
O sinal abriu, o carro arrancou e lá se foram nossos amigos paraíbanos. Sem dizerem os nomes, sem deixar telefone, sem nada. Como se fossem meros detalhes. Combinamos de tomar um ônibus, descer num bar da Praça 7, sentar lá e esperar que amanhecesse.
Não resisti e perguntei:
— Você pegou pelo menos o telefone deles?
— Eu não.
— E como é que a gente vai encontrar com eles lá na Paraíba?
— Ah, quando chegar lá a gente decide.
Aí nenhum de nós dois conseguiu mais parar de rir.
Crédito da imagem: Pinterest.