Mulheres em Ipanema nos anos de 1950
Um banho de beleza nos meus olhos
Leandro Alves
“O problema de São Paulo é que a gente anda, anda e nunca chega a Ipanema”. Vinícius de Moraes. No último Carnaval, ao que eu me lembrei, eu estava em Ipanema. “Alô Banda de Ipanema, aquele abraço” ( Gilberto Gil) A convite de um amigo, a quem envio meu abraçaço, fui depois de muitos anos, finalmente, passar a minha primeira folia no Rio de Janeiro — irei pelo menos mais umas mil vezes, como profetizou uma amiga minha.
O Rio de Janeiro é das cidades mais bonitas que existe. Para qualquer lugar que a gente olhe, dá música. Como eu não nasci com olhos azuis e não me hospedei perto da praia, fiquei num bairro distante, no Lins, perto do Méier, distante do burburinho do carnaval, duas horas longe do certo, sendo que eu gastava — feliz da vida, diga- se de passagem — duas horas juntando ônibus e metrô. Andando de metrô, para não perder o costume, fui observando e prestando atenção em tudo: todos os bairros do Rio alguém já fez música sobre eles. Eu entrava no metrô, passava pela Lapa, lembrava de “Homenagem ao malandro”, do Chico Buarque; Para chegar até Ipanema, descendo na Estação General Osório, pegava o metrô sentido Pavuna, batucando na cabeça o samba “Na feirinha da Pavuna”, com a voz mais gostosa do mundo, da jovelina Pérola Negra; Lembrei do Méier, por onde eu passava, para dormir na casa do amigo, e da música “Daqui pro Méier”, do Ed Motta. Copacana, Ipanema, Cristo Redentor, morro do Vidigal, favela da Rocinha, Estácio, Mangueira. Constatei: quase não há um metro quadrado no Rio que não tenha inspirado uma música em algum carioca raiz.
Como sói acontecer nos dias de Canaval, fui vestido de freira. Um hábito azul, me cobrindo da cabeça aos pés, com um óculos para dar um ar de intelectual, um crucifixo. O meu número favorito: viajar em pé vestido de freira olhando para os passegeiros sentados. Uma mulher com o marido fazendo força para não rir. Depois, chegando nos bloquinhos onde eu ia ( Carmelitas, Banda de Ipanema, Cordão do Bola Preta) pegar uma latinha de cerveja, fazer aquela carinha de santa e ir para a folia. A menina do guichê do metrô quis confessar comigo os pecados mais insanos, um turista na praia de Ipanema me agarrou para dar um beijo na bochecha, beijos na boca por onde quer que eu passasse, o samba no pé, turistas de todo canto do mundo querendo ir para o céu, dançando “Na boquinha da garrafa” no metrô da Pavuna. Foi quando eu entrava na Praia de Ipanema que ela passou, deixando um sorriso no chão, dando um banho de beleza nos meus olhos. Eu ia distraído, talvez pelo fato de a timidez sempre me deixar distraído quando o amor acena para mim, quando eu entrava para ir curir a Banda de Ipanema, uma garota de Ipanema gritava por mim. Não ouvi, mas meu amigo gritou: “Olha lá. Olha lá.” A estrela de primeira grandeza era esbelta, branca, usava biquini, tinha aproximadamente vinte anos, os cabelos bem molhados e a toalha no corpo bem molhada. “Oi, moça. Tudo bom?” “Eu não falo português”, ela disse com o sotaque mais charmoso do mundo. “English?”, “Yes, sure”. “Can i take a picture with you?”, “Go ahead”. “Where are you from?”, “I’m from Israel”. Ela parou,na loja de discos e escutou, a canção que eu fiz para ela. Eu abraçava aquela deusa, encostava meu rosto no dela para que meu amigo batesse a foto, sabendo que, mesmo distante, lá em terras Israelenses, ela tiraria o celular do bolso, ampliaria uma foto, e olharia pra mim. Um chope pra distrair, um chope pra distrair, um chope pra distrair. Eu quis correr atrás depois que ela se foi, pedir um beijo, pedir que passasse o dia comigo, fazendo amizade também com o poeta que me acompanhava. Almoçando, pulando no mar, rolando na areia. Eu abusava me sentindo autor da canção do Paulo Diniz, me dando o desfrute de mudar um pouco a letra. Ela parou, na banca de revistas e leu, a crônica que eu fiz pra ela. A minha mensagem de amor, é tudo que tive pra dar, em Ipanema. Um chope pra distrair, um chope, um chope, um chope pra distrair.
Estar por uns instantes nas retinas daquela beldade fez um raio de sol iluminar minha alma escura para sempre, o sorriso dela vai me consolar nas horas duras da vida, como um poema que a gente sabe, que a gente fala de cor.
Depois de tudo, reparei que na parede do metrô tem uma crônica do Ruy Castro na parede. Às essas alturas, eu já não queria mais nada na vida. Ela parou, numa banca de revistas e leu, a crônica que eu fiz pra ela.
Respostas de 2
Você e suas andanças carnavalescas!!!!
Sempre rendendo boas histórias.
Bela crônica amigo!!!
Faz nos tbm sonhar com a moça israelense!!!!! Que como VC diz, era linda!!
Rapaz, quando fui no Carnaval carioca pude ver porque tanta gente ama aquela cidade.